Eu sou o negão, e sou o vigia do barco, cuido desse bem com carinho, é o instrumento de sobrevivência do João. O barco que também tem nome, ele se chama "Navegante".
Estava eu sem casa há um bom tempo, dei uma passada aqui pela praia para aliviar o calor, estava também faminto. Aquele homem que degustava sua marmitinha, ali sentado na sombra do barco, me fez um aceno, meio desconfiado me aproximei, de cara já fui acarinhado, ele me olhou, passou suas mãos calosas sobre meu lombo e sentiu a saliência das minhas costelas, minha barriguinha estava vazia, ordenou que eu deitasse ali, obedeci e esperei. Ao término da refeição me ofereceu metade da sua comidinha.
De barriga abastecida deitei ali na sombra, fui outra vez acarinhado, e ele com seu dedo em riste como quem diz, cuide do barco que volto amanhã.E se foi!
Na manhã seguinte, quando avistei o João vindo pela praia em minha direção, correndo, fui ao seu encontro e lhe dei um grande e agradecido abraço, e pulando e correndo em círculo pela areia, chegamos até o barco, ele chorava e me abraçava. Depois de algum tempo, foi a vez do café da manhã, um farto café regado a restos de frango com arroz, e me fartei.
O João foi para o Mar, fiquei à sombra do coqueiral à sua espera, e assim acontece todos os dias. Cuido e sou cuidado com carinho. Quanta gratidão sinto nos olhos do João quando me faz festa, e tenho a certeza que ele sente a mesma gratidão de minha parte.
Diná Fernandes